Um dia, há exatos 30 anos, numa “praia” pela manhã, onde o “verde era o inferno” eu conheci uma pessoa que mudaria minha vida, mudaria meu jeito de ver a vida, de ver as pessoas, daquele dia em diante eu passei a sentir a simplicidade, passei a ser mais humano, a ser mais humilde, a conhecer a amizade e suas fronteiras e seus muros, que ainda hoje às vezes atravesso e às vezes fico em prantos, às vezes erro, a partir daquele dia a poesia passou a fluir diferente, acho que comecei a aprender algo que não aprendi até hoje, a ser gente.
CARTA AO CLÁUDIO RANGEL
Eu comecei a escrever isso em 01 de fevereiro de 2011, data simbólica dos 30 anos de amizade que nos une, eu sei cara que é um poema bem simples, nada para impressionar, fiquei dias lutando com minhas limitações, e esbarrava no pouco talento que tenho e nas inspirações que vinham e iam, pois eu queria fazer algo que chegasse pelo menos perto do seu talento, da sua arte, e sei que nem perto cheguei, lembro-me que quando nos conhecemos éramos muito jovens, eu um desconhecido que engatinhava, e ainda estou engatinhando na poesia e você , apesar da pouca idade, já era rodado, já tinha experiência que somada ao seu talento e conhecimento só me ajudaram, lembro-me das tardes de sábado que eu passava com vocês e você sempre dizia, com o violão nos braços.
--“Você é um homem do mundo e não pode se prender numa cela”
É cara, eu sei disso, mas eu vivo numa cela, na cela do meu próprio isolamento, não sei porque, nunca deixei de ser assim, lembro-me quando estávamos com o Zé Luiz( padrinho desnaturado), e eu com esse meu jeito tímido, calado, sem me abrir muito e você dizia:
--“Arnoldo, não pertencemos a esse lugar”,
Hoje eu tenho certeza que não pertencemos a esse lugar e você sabe que cada vez mais chego a conclusão que a herança que deixarei é meu coração e o meu galardão aqui, aqui nesse lugar é apenas a terra umedecida, nada mais, então procuro meu caminho para além daqui, Deus queira que não seja em vão, sei que nós temos que ver além desse pequeno e limitado horizonte, pois o nosso "inferno verde" foi apenas a metáfora do que iríamos passar na terra de meu Deus.
Hoje eu tenho certeza que não pertencemos a esse lugar e você sabe que cada vez mais chego a conclusão que a herança que deixarei é meu coração e o meu galardão aqui, aqui nesse lugar é apenas a terra umedecida, nada mais, então procuro meu caminho para além daqui, Deus queira que não seja em vão, sei que nós temos que ver além desse pequeno e limitado horizonte, pois o nosso "inferno verde" foi apenas a metáfora do que iríamos passar na terra de meu Deus.
Hoje além de você só uma pessoa conhece tão bem o meu trabalho, conhece tão bem como sou,a quem como você agradeço de coração tudo que fez e faz por mim como pessoa e por minha poesia, pois sem vocês com certeza minha poesia não seria a mesma e sei que ainda tenho muito, mas muito mesmo que aprender com vocês.
VERDE
Ao meu irmão de coração Cláudio Rangel
A varanda tinha uma cadeira de descanso
De cada lado
As paredes eram emboçadas
A porta estava sempre aberta
Na sala um som
Um quadro na parede
Uma mesa de centro
Enfeitada com uma flor
Uma porção infinita de amor
E um jogo de sofá
Para ouvirmos o violão
Para ouvirmos a bela canção
Como se estivéssemos a beira mar
Como se estivéssemos
Numa clareira
Ouvindo o luar
Ali naquela sala habitava
A simplicidade
O toque sutil da amizade
E eu ficava a contemplar
Pai e filho a cantar
A conversar
A tocarem o violão para me encantar
Dava pra sentir o calor da fogueira
Dava para ficar ali a vida inteira